quarta-feira, 15 de setembro de 2021

Logos - Transportes Públicos




Algures no Tibete, um grupo de pessoas aguarda animadamente pelo autocarro que as levará ao seu destino.
Por vezes não entendemos as línguas e os seus dialectos, então observamos os gestos e as expressões em busca de entender as conversas… observamos ainda mais atentamente, quase que os compreendemos…
As conversas aleatórias que se ouvem como episódios de uma novela com fim suspenso, que espicaça a curiosidade e quase nos fazem perseguir a pessoa que sai na paragem seguinte, atendendo ao seguinte episódio… talvez nos cruzemos amanhã e a história prossiga. 

"Às vezes esqueço-me disto.
Mas sempre que me lembro e posso, maravilho-me
a ver como esta inacreditável fauna humana germina.
Sento-me num café e fico uma hora inteira a ver
passar na rua as trinta mil pessoas da cidade.
Convencidas, vencidas, alegres, tristes, inquietas, calmas,
seguras, inseguras, deslizam como imagens num écran.
Naquele momento, dir-se-ia que cada uma concentra em si
o destino do mundo.
E, afinal, um segundo depois, não fica no seu caminho
o mais leve sinal de tanta significação que parecia ter.
Representou apenas um papel semelhante ao daqueles
protagonistas das tragédias e comédias contadas num jornal
que a criada amarrota, mete no fogão e queima.
"

Miguel Torga, in "Diário (1940)"

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