domingo, 31 de janeiro de 2016

Logos - Soleil

Late nights, early mornings (2)
Ilha de Java, Indonésia. 


Mais uma vez o tempo… Parece que o sol incendiou o céu antes de partir para outros horizontes.

"Le soleil maître de nos vies
indifférent loin
Il est le visiteur - un seigneur -
Il entre chez nous.
Se couchant bonsoir dit-il
à ces moisissures (ô arbres)
à ces flaques qui sont partout
(ô mers) et à nos rides
altières (Alpes Andes et nos
Himalayas). Et les lampes
sont allumées.
Ponctuelle machine tournante
depuis l'immémorial il fait
naître à chaque instant des
vingt-quatre heures la gradation
la nuance l'imperceptible
presque leur fournissant
une mesure. Mais il la rompt
à deux fois brutalement le
matin et le soir. Le continu
lui appartient tandis qu'il
nous impose l'alternatif -
la nuit le jour - les deux temps
qui règlent notre destinée :
Un soleil se lève
un soleil se couche
un soleil se lève à nouveau"

L'Angle Droit; Le Corbusier.


1ª parte:
http://entrepreambulos.blogspot.com/2016/01/logos-calendarios.html


Logos - Calendários

Late nights, early mornings.
O nascer do sol na ilha de Java, Indonésia.

O nosso tempo organiza-se mediante o calendário gregoriano.
E agora um parêntesis para ver o significado de calendário:
"calendário, (lat. calendariu, de calendae, calendas). Tabela, folhinha [este diminutivo soa sempre tão irónico] ou livrinho em que se indicam os dias, semanas e meses do ano, festas religiosas, fases da Lua, dias de gala, etc. Almanaque.  -
Foi Rómulo quem estabeleceu o calendário romano, determinando que o ano teria 300 dias, divididos em 10 meses. Numa Pompílio, seu sucessor, acrescentou dois meses ao ano.
César reformou o calendário para o harmonizar com o ano solar, criando um dia bissexto de quatro em quatro anos. Mas esta reforma importava um erro de 7 dias ao cabo de 900 anos; de maneira que, em 1582, o equinócio da Primavera tinha o atraso de 10 dias.
O papa Gregório XIII ordenou, então, que se chamasse 15 ao dia 5 de Outubro daquele ano e suprimiu os bissextos seculares, exceto um em quatro séculos. 
Esta reforma chamada gregoriana, foi aceite pelos povos da Europa, exceto os Turcos, os Gregos e os Russos. Mas há ainda um pequeno erro ou diferença entre o calendário e o tempo que a Terra gasta à volta do Sol: apenas a diferença de um dia em cada período de 4000 anos. Chama-se calendário perpétuo ou eclesiástico aquele em que se acham sempre as ordinárias indicações de um calendário, desde que se conheça a letra dominical e a epacta do ano."
Dicionário Prático Ilustrado.

Os meses e os anos mudam seguindo uma determinada definição. As horas, os minutos e os segundos dividem um dia, uma semana, um mês, um ano.
24 horas - 1 dia
7 dias - 1 semana
28/29/30/31 dias - 1 mês
12 meses - 1 ano
E assim as nossas vidas sucedem... E assinalamos algumas datas que nem sempre recordamos. Afinal não passam de números que coincidem passado um certo período de tempo, normalmente sempre igual. Mas o dia é outro e os momentos recriam-se numa repetição por vezes insensata.

E os pássaros cantam de noite, talvez confundidos pelas luzes que iluminam as vidas daqueles que permanecem acordados após a hora crepuscular.

Talvez devesse respeitar o horário solar, ou os ciclos da lua...


[04-01-2016]

sábado, 30 de janeiro de 2016

百(ひゃく) - 頑張って

頑張って (がんばって)!

 富士山 (Fuji-san)

 宮島(Miyajima)



 弘前市, 青森県(Hirosaki, Aomori).
Esta cidade voltará a aparecer aqui no blogue.
Hoje vou apenas publicar sete [七] imagens






Esta não fotografia não tenho a certeza se também é desta cidade.

Finalizo com o fotografia tirada à noite, nesta mesma cidade, que pretendo um dia conhecer.
Quem sabe se um dia não passearei por estes mesmos sítios, usufruído de cada local, de cada hora do dia.

P.S. No próximo mês continuarei a falar do Japão e retomarei a temática - Resolutione.

Adivinha - Igualdade

Alguns escritores parecem que nos leem a alma, descrevem em poemas pensamentos que nos afloram a mente de uma forma arrebatadora. Como é que é possível?
A verdade é que a dada altura pensamos todos no mesmo, não importa a época, a história, os ideais, o género... a essência revela-se sempre a mesma.

E a fotografia escolhida para "ilustrar" este texto é também uma adivinha, para não perderes o hábito. [quase que podia ser um trocadilho]

[09-01-2016]

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

青 - Azul

"Le niveau s'est établi où
s'arrête la descente des eaux
à la mer
la mer fille de gouttelettes
et mère de vapeurs. Et
l'horizontale limite la
contenance liquide.
Rais solaires brume triturée
condensation nuées nuages
poids variables l'un s'élève et
l'autre s'enfonce glissant
l'un sur l'autre frottés l'un
contre l'autre poussés
verticalement horizontalement.

[...]
L'univers de nos yeux repose
sur un plateau bordé d'horizon
La face tournée vers le ciel
Considérons l'espace inconcevable
jusqu'ici insaisi.
Reposer s'étendre dormir
- mourir
Le dos au sol...
Mais je me suis mis debout!
Puisque tu es droit
te voilà propre aux actes.
Droit sur le plateau terrestre
des choses saisissables tu
contractes avec la nature un
pacte de solidarité : c'est l'angle droit
Debout devant la mer vertical
te voilà sur tes jambes.
"

L'Angle Droit; Le Corbusier. 

Na baia de Tóquio, a cor azul 青 predomina, presente no céu e no mar que o reflete.
Na baia reencontramos o horizonte e adquirimos uma perceção distinta da que até então tínhamos nas ruas da cidade de Tóquio.
A sua horizontalidade relembra-nos a nossa verticalidade.
O horizonte uma linha que marca um limite ou um encontro de dois elementos distintos.
Já reparaste que o caracter lua -月- aparece neste kanji, será que tem algum pensamento subjacente que a nossa cultura não compreende?
Com esta imagem termino um mês dedicado a alguns dos oitenta kanjis, associando a uma fotografia do Japão. No próximo mês, irei desenvolver alguns dos temas anunciados através dos caracteres.
Sendo que o primeiro dia do mês fevereiro corresponde a uma segunda-feira (o primeiro dia da semana) vou apresentar os dez primeiros números em kanji estabelecendo uma ligação com algum sitio que já tenha ou não visitado no Japão.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

小 - Pequeno

小さい - Pequeno






























Para o kanji de hoje faço mais uma referencia à escala do Homem face às suas criações. Sem dúvida que o Homem fantasia e imagina formas que posteriormente tenta concretizar e materializar.
O tamanho é mensurável também pela comparação das proporções.
Através das nossas dimensões reconhecemos comparativamente o grande [] e o pequeno [小], numa relação ou atribuição quase egocêntrica. E assim vamo-nos comparando e definindo, regendo o meio em que vivemos. Bem ou mal...

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

赤 - Vermelho / 白 - Branco

No caracter -白 - surge novamente o sol -日-; uma superfície torna-se "branca" pela incidência da luz. O sol transmite luz e permite-nos ver as diferentes cores que compõem o espectro visível. 
A nossa visão renasce com o nascer do sol, cuja sua luz desenha formas, anuncia texturas, apresenta cores, etc. 

O branco reflete toda a luz que recebe, enquanto que o vermelho absorve alguma.
Durante as horas crepusculares, as superficies "brancas" tornam-se da cor do sol, geralmente avermelhado. Já reparaste?

赤 - Vermelho - Assim que penso em vermelho lembro-me da Índia onde esta cor está associada ao casamento (assim como noutros países asiáticos).
 
Estas duas cores predominam na fotografia de um momento que pertenceu a um casal de japoneses, à sua família e às pessoas que por ali passavam, numa manhã num parque imenso no coração da cidade de Tóquio.

Mais uma palavra com o kanji que simboliza vermelho para ilustrar a poética da simplicidade da língua japonesa:
bebé  - 赤ちゃん (Akachan) [Porque os bebés recém nascidos têm a pela avermelhada.]

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

犬 - Cão

Algures numa rua da cidade de Quioto uma senhora passeia tranquilamente a sua cadela.
A propósito da dedicação dos japoneses aos seus amigos caninos: " It's easy to assume that there must be some correlation between the decline in Japan's  birth rate and the corresponding boom in small dogs in prams. Professor Masahiro Yamada of Chuo University, a sociologist who has been looking at attitudes to family and marriage for years, says that the affection and money lavished on dogs in Japan is about more than finding surrogate children. "I think dog owners want to feel that they can be trusted by their dogs, that they are needed by them," he says. "It's not only single women and couples without children who keep dogs but many married couples too."
Monocle - issue 53 (91-92)

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

竹 - Bambu

O bambu sempre presente em vários países asiáticos, ornando jardins, presente em pratos típicos ou auxiliando na construção dos edifícios.
Nas fotografias do Japão, encontrei o bambu num pequeno jardim de uma habitação tradicional japonesa.



O significado dos pátios ajardinados nos estudos de Mies van der Rohe remetem para “uma representação da natureza ou uma representação artificial do mundo
que gera “uma cenografia em que o céu e o jardim a natureza aparecem
como uma metáfora do tempo cíclico, e a grande fachada envidraçada, como umexcecional diorama para a sua contemplação.” Esta poderá ser uma definição mais aproximada da realidade ou dos pensamento que originou estes espaços ou áreas nas habitações japonesas, traduzida por um arquitecto do século XX.Ábalos, Iñaki; A boa-vida, visita guiada às casas da modernidade. (26)
 
Deixo mais uma definição que considerei relevante de salientar, apesar de não estar diretamente relacionada com a imagem desta publicação.
"A mais importante das suas características é o pátio ajardinado, espaço privado central e aberto. O pátio é o coração da casa urbana oriental e não existe em nenhuma outra língua uma expressão mais poética do que a chinesa para definir o pátio, «oferenda do céu», fonte que proporciona luz, ar e água da chuva à habitação…
outra característica da casa-pátio é que esta introversão proporciona privacidade visual e acústica não só relativamente à rua, mas também relativamente aos vizinhos."
Norbert Schoenauer, “6.000 años de hábitat – de los poblados primitivos a la vivenda urbana en las culturas de oriente y occidente”, 1884 (1981); P.237.
 
 

domingo, 24 de janeiro de 2016

田 - Campo de Arroz

Um campo de arroz algures no Japão. Nem sempre sabemos onde estamos...

田 - Este caracter (ou radical, nunca sei qual o termo mais adequado) aparece também no caracter que forma a palavra cidade [町].
Porque será?
Para manter uma cidade é necessário preservar, manter campos de arroz que abasteçam a população.
Seria uma questão de subsistência?

Este mesmo caracter [田 ] associado ao caracter que significa força [] ajuda também a compor o caracter que simboliza o homem []. " O homem tem a força para preparar e cultivar os campos de arroz. Assim se vai conhecendo uma cultura que cresceu geograficamente tão distante da nossa, mas  talvez culturalmente  similar.

sábado, 23 de janeiro de 2016

Adivinha

Nas minhas parcas anotações  tinha anotado o seguinte poema para esta adivinha, levei mais de meia hora a descobri-lo; reli-o, não era bem isto que tinha em mente; mas aqui fica, pelo tempo que levei a encontra-lo.

"Nova ilusão

No rarear dos deuses e dos mitos
Deuses antigos, vós ressuscitais
Sob a forma longínqua de ideais
Aos enganados olhos sempre aflitos.

Do que vós concebeis mais circunscritos,
Desdenhais a alma exterior aos ritos
E o sentimento que os gerou guardais

Lá para além dos seres, ao profundo
Meditar, surge grande e impotente
O sentimento da ilusão do mundo.

Os falsos ideais do Aparente
Não o atingem - único final
Neste entenebrecer natural."

Fernando Pessoa; 6-11-1909.
(Novas Poesias Inéditas, 14)



Após o citar, relendo-o, era isto que tinha em mente.
Maravilhoso, não é verdade?
Para ler mais uma vez, e mais uma vez.

E agora a pergunta inevitável: Onde fica?



P.S. Se quiseres saber ou confirmar a resposta da adivinha não hesites em enviar um email para o seguinte endereço:  deambular.preambulo@gmail.com

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

大 - Grande





Grande é a escala deste edifício dedicado a uma filosofia ou religião, porque a dedicação do Homem que o construiu também foi grande.


Depois de algumas pesquisas descobri o nome deste templo budista: 東大寺 (Tōdai-ji), situado em Nara. Curiosamente também tem "大 - grande" no nome, pura coincidência! Daqui a uns dias falarei mais sobre este templo.
大きい  - おおきい
大 -だい

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

水 - Água

Este caracter já apareceu aqui no blogue, numa quarta-feira [水よう日 - すいようび - http://entrepreambulos.blogspot.com/2016/01/agua.html ]


Num jardim de Quioto, mais um cenário concebido para evocar a vida natural.
A água, quase sempre presente nos jardins japoneses, surge placidamente inspirando vitalidade e frescura. O som produzido pelos seus movimentos provoca serenidade, apaziguando os nossos pensamentos.

E tudo foi imaginado, pensado e construído!

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

山 - Montanha

Para ilustrar este kanji poderia ter usado uma imagem do monte 富士山(ふじさん fuji-san), mas não o vi por causa das nuvens que cercavam os céus do Japão na altura da visita. O lado positivo é que tenho mais um bom motivo (desculpa) para regressar.


Recorro novamente a Quioto, uma cidade limitada por montanhas a oeste, a norte e a leste.

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

森 - Floresta

Mais um regresso à cidade de Quioto:

A cidade foi fundada como capital em 794 (até 1868), na maior ilha Honshu - 本州- do arquipélago que forma o Japão.

Beijing - 北京 = norte + capital
Quioto - 京都, segundo algumas pesquisas; 都 pode significar capital metrópole, 京 pode significar cidade, capital.
Honshu - 本州 = principal + estado/província


A cidade de Quioto estende-se num território pontuado por montes cobertos por florestas.
Nesta cidade encontramos a natureza sempre presente.

森 - Floresta

木 - Uma árvore;
林 - Duas árvores representam o bosque;
森 -  Três árvores representam a floresta.































O jardim concebido pelo Homem parece terminar neste limite.
Atrás da discreta vedação construída com materiais "naturais" começam as florestas que revestem os montes e as montanhas que limitam a cidade de Quioto.
Os montes participam como um cenário, um prolongamento visual dos jardins, que se tornam assim "infinitos".
 

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

草 - Ervas

げん [そうげん ] - Várias ervas formam ou revestem planícies (pelo menos algumas).

A serenidade da natureza tão próxima da cidade...

草 - Ervas

草むら [くさむら] - Arbusto































O mesmo caracter e mais uma palavra.
E assim vamos conhecendo o pensamento ou a organização do léxico de uma cultura com uma lingua ou forma de se expressar tão distinta da nossa.

草 - Ervas

Os tapetes dos jardins japoneses.

«Muito cedo para ser "flor"» contaram-me.































早- Este caracter significa cedo
草 - O símbolo que foi acrescentado ao caracter cedo simboliza planta.




domingo, 17 de janeiro de 2016

花 - Flor

Papoila; Maio 2016.
Enquanto preparava a publicação desta manhã, li este excerto que não podia deixar de partilhar e  que me remeteu invariavelmente também para a arquitectura. Cito novamente Alberto Caeiro (49/50):

"Às vezes, em dias de luz perfeita e exacta.
Em que as coisas têm toda a realidade que podem ter.
Pergunto a mim próprio devagar
Porque sequer atribuo eu
Beleza às coisas.
Uma flor acaso tem beleza?
Tem beleza acaso um fruto?
Não: têm cor e forma
E existência apenas.
A beleza é um nome de qualquer coisa que não existe
Que eu dou às coisas em troca do agrado que me dão.
Não significa nada.
Então porque digo eu das coisas: são belas?

Sim, mesmo a mim, que vivo só de viver,
Invisíveis, vêm ter comigo as mentiras dos homens
Perante as coisas,
Perante as coisas que simplesmente existem."

Muito interessante e que daria para divagar durante algumas horas ou páginas. Deixo que cada um tenha a sua própria reflexão, livre de influências, pelo menos para já.

E lembrei-me de uma frase do arquitecto Oscar Niemeyer frequentemente citada:
“Não existe Arquitetura bonita ou feia. Existe Arquitetura boa e ruim.”

Logos - Conceito de beleza... o que realmente consideramos belo e porquê...

花 - Flor







"Pobres das flores nos canteiros dos jardins regulares.
Parecem ter medo da polícia...
Mas tão boas que florescem do mesmo modo
E têm o mesmo sorriso antigo
Que tiveram para o primeiro olhar do primeiro homem
Que as viu aparecidas e lhes tocou levemente
Para ver se elas falavam..."
Alberto Caeiro (56).


Das poucas flores que vi no Japão. Ficou a promessa [vontade] de voltar para apreciar as cerejeiras em flor, sempre presentes nos jardins, parques e ruas japonesas.

Mais algumas palavras para ilustrar a poética da simplicidade da língua japonesa:

花火  flor + fogo = fogo de artificio
花嫁 flor + nora (mulher + casa) =noiva
花壇 flor + "plataforma" = canteiro de flores


sábado, 16 de janeiro de 2016

Adivinha

Onde fica?
Mais um deserto para suscitar dúvidas.































Lá ao fundo na crista da duna surge o Homem, quase despercebido pela sua insignificância face a este território.
O Homem e o mundo; uma sensação de liberdade que se esgota numa sensação de desamparo.

Ia ilustrar esta publicação com mais uma citação de um poema de Álvaro de Campos, mas tornava tão obvia a resposta. Ficará para quando voltar a falar nesta duna.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

町 - Cidade

Quioto ao anoitecer.


Num ponto e numa hora diferente da mesma cidade apresentada de manhã.
A cidade ilumina-se para receber a noite.
A esta hora dá-se um novo despertar.
As luzes coloridas anunciam vários espaços comerciais, competindo entre si pacificamente.
Mas não se consegue ver as estrelas...

町 - CIdade

Gion - 祇園
Quioto - 京都




As ruas delimitadas por habitações tradicionais que sobreviveram a guerras e incêndios.
As ruas movimentadas e as habitações silenciosas, num contrassenso aparente.
A madeira escura e envelhecida transmite conforto pela sua temperatura quase constante.
No seu interior guardam, albergam vidas que me são desconhecidas.
Quantas pessoas aqui vivem? O que fazem? O que é que pensam? O que é que sentem?
Algumas ruas deste bairro (ou quarteirão, porque a palavra bairro tem erradamente uma conotação negativa)parecem quase adormecidas, mas nas habitações que as ladeiam deverão palpitar vidas que tento imaginar.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

石 - Pedra

Um jardim em Quioto, no Japão.
Numa aparente naturalidade, tentante imitar ou recriar os diferentes elementos que compõem o universo ou o mundo nos jardins que rodeiam os pavilhões japoneses.
Numa representação do meio natural que nos envolve e que a pouco e pouco fomos alterando, deixando o conceito de naturalidade perdido no esquecimento de gerações passadas.
Resta-nos procurar, desvendar e reconhecer essa naturalidade em regiões inabitadas, que nunca foram habitadas.

"TOSHIO: Uh-huh. You see, when people from big cities see the forests, the woods, or the flowing water, they quickly accept such things as natural. However, except in the highest reaches of the mountains, all the sites that are called the “country” are actually made by people.
TAEKO: People?
TOSHIO: Yes, farmers.
TAEKO: That forest too?
TOSHIO: Yep.
TAEKO: That wood, too?
TOSHIO: Yep.
TAEKO: This stream, too?
TOSH: Yep."
Isao Takahata; Only Yesterday; [おもひでぽろぽろ].

石 - Pedra































A pedra [石] presente num pátio de uma habitação tradicional.

As pedras revelam formas que levaram décadas, anos milénios a esculpir, a moldar.
Agora parecem repousar...perante a nossa contemplação.
Mas talvez estejam em permanente mutação.
A definição de tempo novamente presente, ou talvez a indefinição da sua duração.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

虫 - Insecto




虫 - Insecto: Segundo o dicionário consultado "Uma das quatro classes da divisão dos artrópodes. Conhecem-se mais de um milhão de variedades de insectos, divididas em ortópteros, neurópteros, arquípteros (insectos de asas nervuradas), tisanuros, hemípteros, dípteros, lepidópteros, coleópteros e himenópteros.
Antes de chegar ao estado adulto, passam por um ciclo de metamorfoses."
Artrópodes: Divisão do reino animal que compreende os crustáceos, os miriápodes, os aracnídeos e os insectos.
Dicionário Prático Ilustrado, 1968.



Insecto- Mais um caracter curioso, será que tem alguma explicação na sua origem.
Os insetos, animais que nem toda a gente tolera, mas todos terão uma "tarefa"  para a manutenção do ecossistema ao qual também pertencemos como reféns.
Uma gaiola aprisionava esta lagarta -よう虫 - que talvez se transforme num borboleta, confesso que não entendo muito sobre a sua espécie.
Já reparaste que o caracter 虫 é constituído pelo 中 que significa centro ou meio. Mais um caracter que procuro perceber a sua origem.
Tantas dúvidas que persistem...

よう虫 - (ようちゅう) -  lê-se Yōchū

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

川 - Rio

Cidade de Hiroshima, a cidade dos canais.



Os rios parecem saber sempre o seu caminho. Seguem sempre o mesmo sentido, sem medo, sempre confiantes, com uma força que às vezes parece esvair-se na transparência das suas águas, ou na superfície lisa que reflete a vida nas margens.
Mas essa força está sempre presente. Alguns usaram essa força para navegar, outros para produzir energia, etc., usufruindo do movimento constante das águas dos rios.
Não existem fronteiras ou limites que impeçam o seu [per]curso.
Percorrem vales livremente, serpenteiam montanhas, abrem falésias ou escarpas revelando a matéria da carne que compõe a terra.
Podem secar, mas os seus percursos ficam marcados, assinalando o caminho para novas águas, que virão noutras estações.
Existem redemoinhos pontuais, momentos de hesitação que são ultrapassados...
E os rios passam assim como a vida...

Mais uma curiosidade:
天の川 - rio do céu = via Láctea.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

車 - Roda

O caracter 車 simboliza roda, carro; associado a outros caracteres forma outras palavras , comboio, triciclo, bicicleta...
A invenção da roda e aquilo  que significou para o desenvolvimento da civilização. 
Como terá surgido a sua concepçao?
Um elemento que nos acompanha há milénios, sofrendo alterações, transformações e adaptações; alterando a escala dos assentamentos e dos deslocamentos humanos, modificando o seu quotidiano, mudando as áreas urbanas e aumentando produções industriais e agrícolas.
 
(...)
" Rumor tráfego carroça comboio carros eu sinto sol rua.
Arcos caixotes trolley loja rua vitrine saia olhos
Ràpidamente calhas carroças caixotes rua atravessar rua
Passeio lojistas «perdão» rua
Rua a passear por mim pela rua por mim
Tudo espelhos as lojas de cá dentro das lojas de lá
A velocidade dos carros ao contrário nos espelhos oblíquos das montras,
O chão no ar o sol por baixo dos pés rua regas flores no cesto rua
O meu passado rua estremece camion rua não me recordo rua"
(...)
 
Álvaro de Campos; Passagem das Horas (238)
 
Mais algumas curiosidades:
水車 água+roda = moinho de água, roda hidráulica.
でん車 comboio elétrico.
 

domingo, 10 de janeiro de 2016

音 - Som

Pachinko - パチンコ































Uma das inúmeras casas de pachinko [パチンコ - escrita em katakana], algures numa rua japonesa. A nossa atenção é imediatamente atraída pelos sons enlouquecidos das máquinas e pelas luzes palpitantes.
Para alguns um vício, a noção de tempo no interior destes espaços parece esvair-se num infinito, tal como os pensamentos que ocupam a nossa mente constantemente.

"Deslembro incertamente. Meu passado
Não sei quem o viveu. Se eu mesmo fui,
Está confusamente deslembrado
e logo em mim enclausurado flui.
Não sei quem fui nem sou. Ignoro tudo."
(...)
Fernando Pessoa; Novas Poesias Inéditas (116).

音 - Som

Sino da Paz, no parque memorial da Paz, Hiroshima.

Aprendendo mais alguns caracteres e relembrando alguns locais do Japão.
A partir desta semana apresento-te mais alguns caracteres. A cada dia será atribuído um significado e uma memória alusiva. Assim vou recordando e revivendo diferentes momentos vividos no Japão.

"Sinto hoje a alma cheia de tristeza!
Um sino dobra em mim, Ave-Marias!
[...]
Ó chuva! Ó vento! Ó neve! Que tortura!
Gritem ao mundo inteiro esta amargura,
Digam isto que sinto que eu não posso!!..."
Florbela Espanca; Neurastenia. (222)

Um som pesado e denso que parece conter as mágoas, sofrimento, o desassossego, a incredulidade ... E as minhas células tremem até ao último dos átomos pela dor que o som emite pesadamente...

sábado, 9 de janeiro de 2016

Terra - 土よう日

Sábado dia da Terra (土)

日よう日 - Domingo;
月よう日 - Segunda-feira;
火よう日 - Terça-feira;
水よう日 - Quarta-feira;
木よう日 - Quinta-feira;
金よう日 - Sexta-feira,
土よう日 - Sábado.

 Para o último dia da semana escolho estas imagens de Miyajima. Quando as nuvens se aproximam da terra formando o nevoeiro, tão nostálgico, tocando levemente nas montanhas que se erguem do mar, formando a ilha.


O nevoeiro lembra-me sempre a incerteza do futuro. Para conhecer aquilo que se esconde para lá do nevoeira precisamos inevitavelmente de caminhar na sua direção, ou de esperar que o tempo passe e leve as nuvens.
Um véu denso esconde as montanhas mais próximas do horizonte.
Fiquei sem conhecer as montanhas que as nuvens esconderam...Talvez um dia!
Que melancolia.

土よう日 - Lê-se "doyoubi".

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Dinheiro - 金よう日

Sexta-feira ou o dia do dinheiro (金).

Para este dia podia ter escolhido o pavilhão dourado de Quioto, que te mostrei domingo, mas escolhi a seguinte fotografia tirada também num jardim de Quioto.

Cada moeda representa um desejo um sonho que alguém pensou no momento em que a deixou neste lago.
Quantas pessoas passaram por aqui e entregaram a este lago a sua esperança,
Quantas acreditaram,
Quantos é que foram esquecidos,
Quantos se concretizaram...

金よう日 - Lê-se "kinyoubi".

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Madeira - 木よう日

Quinta- feira ou dia da madeira simbolizado pela árvore (木).


Esta foi uma das primeiras imagens a ser escolhida para esta semana; a construção em madeira predomina (ou predominou) no Japão, mas este templo é realmente surpreendente.
O templo de Kiyomizu-dera foi construído há mais de 1000 anos.
Sobe-se a colina e vai-se descobrindo vários edifícios que compõem o complexo religioso, até que  nos afastamos e percebemos e descobrimos que antes caminhávamos num enorme terraço sustentado por uma estrutura de madeira sem um único prego.


木よう日 - Lê-se "mokuyobi"
(もくようび)

Khövsgöl, Mongólia.































Uma imagem bem natalina retratando uma zona e uma etnia da Mongólia, que ainda (importante frisar o ainda) não conheço.
O povo nómada Dukha vive numa região do norte da Mongólia e dedica-se à criação de renas.
"The name Tsaatan, which means ‘those who have reindeer’ in the Mongolian language, were originally Tuvinian reindeer herders"
A linguagem deste país que tanto se assemelha ao árabe, ou ao turco (consta que tem influências turcas), parece a lingua do vento, ou dos desertos, é quase inebriante...

Espero um dia regressar.

Imagem retirada da Internet.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Água - 水よう日

Quarta-feira dia da água (水)
Adoro este caracter, a sua forma desenhada pelo movimento das linhas incutidas por um gesto, transmitido por um pensamento.
 
"On a
avec un charbon
tracé l'angle droit
le signe
Il est la réponse et le guide
le fait
une réponse
un choix
Il est simple et nu
mais saisissable
Les savants discuteront
de la relativité de sa rigueur
Mais la conscience
en a fait un signe
Il est la réponse et le guide
le fait
ma réponse
mon choix."

Le Corbusier, L'angle droit.

Para o dia da água escolhi o grande mercado de peixe de Tóquio chamado Tsukiji.
Aqui jazem inúmeros  atuns destinados a alimentar grandes apreciadores deste alimento...


Os protagonistas das fotografias [e do mercado] são os atuns capturados em águas longínquas e profundas. No mercado são leiloados, após um processo rigoroso de seleção, são medidos, pesados e avaliados.

水よう日 - Lê-se "suiyoubi"


terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Fogo - 火よう日

Terça-feira dia do Fogo (火).

O fogo aquece-nos, alimenta-nos, ilumina-nos...
Criamos laços em torno de fogueiras...
O fogo no centro, sempre presente...
Criamos o nosso lar em torno de lareiras...































Algures no Japão, julgo que em Nara, num templo que visitei, passei por este percurso delimitado por inúmeras lanternas de pedra.
Qual a sua simbologia?
Será que as iluminam em noites festivas com o fogo?

火よう日 - Lê-se "kayoubi".

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Lua - 月よう日

Segunda-feira ou o dia da lua (月).

Hoje apresento-te o castelo feudal de Himeji, considerado o maior dos doze castelos ainda existentes no Japão.
Imagina esta torre iluminada pela plácida luz da lua cheia numa noite sem nuvens.































O castelo apelidado pelos japoneses com o castelo da garça branca foi construído no século XVII, sendo que no local já existia um forte desde o século XIV.

Uma imagem tão distinta daquela que criamos a ocidente e que traduz um mesmo conceito de defesa e de proteção. Uma linguagem que expressa a arquitetura militar desta cultura.

月- Lê-se "tsuki"

月よう日- Lê-se "getsuyobi"