As chaminés são caminhos estreitos e tortuosos, mas queremos que a noite chegue… queremos tanto que cremos e conseguimos.
Passaram muitos dias, passaram muitas semanas até que chegou o Natal.
[…] Porque ela sabia que nas Noites de Natal as estrelas são diferentes.
Abriu a porta e desceu a escada da varanda. Estava muito frio, mas o próprio frio brilhava. As folhas das tílias, das bétulas e das cerejeiras tinham caído. Os ramos nus desenhavam-se no ar como rendas pretas. Só o cedro tinha os seus ramos cobertos.
E muito alto, por cima das árvores, era a escuridão enorme e redonda do céu. E nessa escuridão as estrelas cintilavam, mais claras do que tudo. [...]
Mas no céu havia uma festa maior, com milhões e milhões de estrelas.
[...]
Mas resolveu caminhar para a frente sem olhar para nada.
[…]
O silêncio era tão forte que parecia cantar.
«Será possível que eu chegue até lá?»[...]
Mas continuou a caminhar.
Mas continuou a caminhar.
[...]
E olhava em todas as direcções à procura de um rasto.
Sophia de Mello Breyner, 1989.
Ilustrações de Chanel
[23-12-2018]