segunda-feira, 25 de abril de 2016

41º Noite (6)

De noite ou quando o frio se torna mais intenso encontramos refúgio nas yourtes, que nos abrigam no seu interior...

Tão fácil de transportar, de montar, de desmontar e de montar novamente, próxima das melhores pastagens para os animais que sustentam as famílias ao longo dos anos.
E assim vão percorrendo as estepes, seguindo a vontade das estações do ano... Assim se define a sua liberdade quase irrepreensível.


As marcas que deixam no território são tão subtis.
Adivinham-se pelas formas circulares sem vegetação, que não tarda voltará a nascer e as marcar voltarão a desaparecer.

Como é que este povo se orienta por este vasto território?
À noite surge um elemento que nos orienta a ursa maior.
De dia, o movimento do sol [terra] revela-nos a passagem das horas e a nossa orientação geográfica. A sua energia torna a atmosfera mais quente e desvenda o território, as suas cores, as suas formas e texturas. E Conseguimos sentir o seu sereno toque na nossa pele.
Sabias que a porta das yourtes está sempre orientada a sul?


E os anos que levaram a desenvolver a estrutura e os elementos que permitem a construção ou a montagem da yourte. As suas dimensões precisas, os encaixes, tudo é pensado. A simplicidade resulta por vezes de um processo complexo de maturação de diversas tentativas de experimentação.

O centro da circunferência que define o espaço interior é materializado pelo fogo que origina um sentido proteção.
"A casa é imaginada como um ser concentrado. Ela nos leva a uma consciência de centralidade"[1]
Para libertar o fumo, um óculo abre-se no topo, lembrando-nos também se é de dia se é de noite.


Enquanto viajantes habituados ou ensinados a viver em núcleos urbanos redescobrimos a noção de refúgio, sentimo-nos acolhidos nestas pequenas conhas temporárias e redescobrimos a nossa essência, a nossa individualidade.
“Em caixas sobrepostas vivem os habitantes da grande cidade (…) diz Paul Claudel,“ entre quatro paredes, é uma espécie de lugar geométrico, um buraco convencional que mobiliamos com imagens, com bibelôs e armários dentro de um armário.” O número da rua, o algarismo do andar fixam a localização do nosso “buraco convencional”, mas nossa morada não tem nem espaço em seu redor nem verticalidade em si mesma.” [2]


Quando o frio é tolerável o exterior chama-nos... e
atrai-nos com uma força, quase magnética...
http://entrepreambulos.blogspot.com/2016/04/36-noite-1.html
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http://entrepreambulos.blogspot.com/2016/04/39-noite-4.html


[1] A poética do espaço; Bachelard, Gaston, p.36
[1] A poética do espaço; Bachelard, Gaston, p.45
A imagem com o esquema da yourte é retirada da Internet.

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